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Para evitar novas tragédias provocadas pelas chuvas é preciso pensar melhor as cidades, regulamentar áreas e cuidar mais do meio ambiente

O cientista brasileiro referência mundial em mudanças climáticas, o meteorologista e climatologista Carlos Nobre, em entrevista ao Congresso em Foco, do Uol, fez um alerta sobre os desastres ambientais no Brasil, como o provocado pelas fortes chuvas ocorridas neste feriado do carnaval no litoral norte de São Paulo. De acordo com o pesquisador, os desastres tendem a ser cada vez mais frequentes e mais graves. Com formação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e coautor da pesquisa vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2007, Carlos Nobre explica que o aumento da temperatura global está diretamente atrelado às catástrofes no litoral brasileiro.

“Esse é o risco decorrente de nós continuarmos aquecendo o planeta, lançando gases de efeito estufa, como dióxido de carbono, metano, óxido nítrico, entre outros. Se seguirmos assim, neste ano teremos o recorde de emissões no planeta, manteremos o aumento da temperatura e esses fenômenos que vivenciamos serão brincadeira perto do futuro”, disse o pesquisador ao Uol.

Nobre ressaltou também que é preciso preparar a sociedade, os sistemas econômicos e as populações das áreas de risco para enfrentar os fenômenos climáticos.

“No longo prazo, a prioridade é concentrar em políticas para tirar nossas 10 milhões de pessoas de áreas de risco. A maioria destas, inclusive, vive em áreas de alto risco: regiões em que não há solução da engenharia para tornar seguras, em que a única solução é tirar as pessoas dali”, defende o climatologista.

Planejamento urbano e prevenção podem ajudar a evitar tragédias

O alerta emitido pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) na última quinta (16) sobre chuvas, com possibilidade de desastres no fim de semana no litoral de São Paulo, exigia melhor preparação dos municípios. É o que dizem especialistas e pesquisadores, que defendem planejamento urbano e maior trabalho de prevenção para evitar novas tragédias.

De acordo com Marcio Cataldi, que coordena o laboratório de monitoramento e modelagem do sistema climático na UFF (Universidade Federal Fluminense), algumas medidas precisam ser adotadas para o enfrentamento de problemas estruturais. “A primeira delas é melhorar o diálogo com a população, fazendo a ponte entre o alerta e líderes comunitários e assistentes sociais que cheguem às pessoas”.

“Para isso, é preciso encarar a Defesa Civil municipal como um órgão com corpo técnico próprio de meteorologistas, geotécnicos e hidrólogos, deixando de contar apenas com os análogos estaduais e federal”, disse  em entrevista à Folha de São Paulo.

Cataldi também defende a criação de um sistema de contingência, que conte com sirenes, treinamento das pessoas e plano de desastres, mais investimento em corpo técnico, além da atualização e a compra de equipamentos, como radares.

 

Professor da Unifesp defende novas formas de regulamentar condomínios de alto padrão

O professor de instituto das cidades da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Anderson Kazuo Nakano, defendeu durante entrevista ao Podcast “O Assunto”, com a jornalista Natuza Nery, que sejam implantadas novas maneiras de se regulamentar os condomínios de alto padrão no litoral para que os moradores de baixa renda possam também ter acesso a moradias em área segura.

"É preciso pensar formas de aproveitar essas áreas próximas aos condomínios – distantes dessas áreas de impacto da Serra do Mar – para acomodar essa população que chegou lá para ajudar a construir esses condomínios e está lá para trabalhar como empregada doméstica, jardineiro, porteiro, segurança motorista."

A tragédia no litoral norte de São Paulo causada por uma chuva recorde deixou mais de 40 mortos e mais de 2500 pessoas desabrigadas ou desalojadas neste feriado de carnaval no Brasil, expondo a desigualdade na região.

Ouça a íntegra do Podcast no G1.

Crédito: Instagram/Reprodução