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A resposta a essa pergunta é relativamente simples: serão realmente catastróficas se prosseguirmos com governos e lideranças catastróficas

Há décadas cientistas indicam que o aquecimento global foi intensificado em boa parte pelas ações humanas e que já causa impactos irreversíveis para todas as formas de vida. Também nesses últimos anos foram os investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) que possibilitaram aprimoramento dos métodos de estudo, a calibração das previsões e o auxílio na proposição de ações para desacelerar o aquecimento do planeta e suas consequências. Tais investimentos continuam fundamentais para proporcionar o que está na frase de Saint-Exupéry, usada pelo IPCC em seu último relatório geral: “Quanto ao futuro, não se trata de prevê-lo, mas de torná-lo possível”.

O futuro que realmente será possível passa por desde atitudes individuais até o grande arranjo entre os países sobre como lidaremos com os cenários que hoje estamos a construir. Neste último aspecto, a única chance de ter um futuro climático menos difícil é avançarmos agora no investimento em CT&I com vistas à desaceleração do aquecimento global e à adaptação às mudanças climáticas em curso. As consequências do que vivemos hoje e viveremos no futuro não se referem a meros números, mas sim a salvar vidas, como alertou a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, em seu contundente discurso em Glasgow durante a COP26.

O governo do Brasil era reconhecido na diplomacia ambiental como uma liderança mundial e já exerceu protagonismo no cenário internacional em acordos climáticos. Contudo, chegou à COP26 como um dos mais contestados, a ponto de a ausência do presidente Jair Bolsonaro ser justificada para “não levar pedradas” no palco internacional, nas palavras do vice-presidente. Para além do recente estímulo à aceleração do desmatamento, das ameaças de morte aos povos originários brasileiros, do incentivo a práticas arcaicas de exploração dos recursos naturais, entre outros, o governo Bolsonaro age para silenciar a Ciência cortando em 93% o nível de investimentos em pesquisas sobre mudanças climáticas, de acordo com levantamento da BBC Brasil.

É por esse e vários outros motivos que as novas metas climáticas brasileiras “mais ambiciosas” anunciadas pelo Ministro do Meio Ambiente em Glasgow apenas despertaram incredulidade. E é justamente com palavras ao vento e ações lesivas de um governo catastrófico, absolutamente desconectadas da realidade, que vamos acelerar nosso rumo a um cenário climático também catastrófico. Já não temos mais tempo.

(Décio Semensatto é professor da Unifesp e pesquisador do SOU_Ciência)

Matéria de referência:

Brasil cortou 93% da verba para pesquisa em mudanças climáticas