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Apagão na ciência? Sistema do CNPq cai e deixa pesquisadores ainda mais apreensivos

No último dia 22, enquanto uma deputada alemã associada ao partido alemão da extrema-direita era recebida no Palácio do Planalto com gala e pompas, uma das placas do sistema de informática que armazena os dados dos currículos de TODOS os pesquisadores brasileiros, seus projetos, relatórios, prestação de contas, editais abertos, bem como a folha de pagamento das bolsas dos estudantes de pós-graduação, de iniciação científica e de pesquisadores, além de muito outros dados, estava às vésperas de queimar e deixar indisponível todas essas preciosas informações, um verdadeiro patrimônio da sociedade brasileira.

O encontro expúrio a que aludimos e que nos causa, no mínimo, perplexidade, foi registrado em reportagens e fotos. Uma delas, inclusive, flagrava a referida deputada neofascista na companhia do Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil.

Qualquer comentário sobre a vergonha e inadmissibilidade de tal encontro, e foto, faz-se desnecessário. E, de fato, enquanto as placas do sistema de informática do CNPq queimavam e se apagavam, também o Ministro, num rompante de sanidade ou vergonha, tratou de borrar sua foto na companhia dessa pessoa repugnante das midias sociais.

 Apagam-se fotos...

Apagam-se os dados, os fatos...

Apaga-se a ciência e a pesquisa brasileira, sem que a autoridade que mais lhe representa apareça em públicoprontamente para esclarecer a tragédia do ocorrido.

Até transparência se apaga por aqui nos tempos atuais!

Mas esse apagão - não o da foto, o do CNPq -, se inscreve como mais um capítulo de uma história triste e que, certamente, não terá um final feliz se nada for feito.

O que esperar de um Conselho que viu seus recursos minguarem como nunca dantes e que, hoje, conta com o menor orçamento do século 21, e que precisa dar conta de um sistema de pequisa que virtuosamente só cresce? Como cumprir sua missão com um orçamento que já era minguado em 2020 e que se reduziu a metade em 2021? Como fazer manutenção, ter peças de reposição para evitar que se perca aquele que é o maior banco de currículos do Brasil, quiçá do mundo?

A resposta a todas essas indagações é negativa. Não, não é possível! Não é possível, com esses recursos, acompanhar o crescimento da pós-graduaçao do Brasil, atualizar o valor das bolsas dos estudantes, aumentar o número de bolsas de pós-doutorado no país, evitando a fuga de doutores, fomentar a pesquisa dos jovens pesquisadores, além de manter a casa arrumada com a compra de peças de reposição para o seu valioso sistema de computação que tem a história e a vida acadêmica de todos nós lá armazenada...

E tudo isso em 2021, quando o CNPq completa 70 anos!

Que presente...

No entanto, o CNPq é a nossa casa e nós não estamos dispostos à vê-lo morrer de inanição! SOU_Ciência! SOU_CNPq!

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Débora Foguel é professora Titular da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Ciencias e pesquisadora do SOU_CIENCIA