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Desde 2013 valores não são reajustados; recomposição deveria ser de 66%

Nesta terça, 8, o jornal O Globo trouxe mais uma notícia que ajuda a compreender o motivo pelo qual muitos pesquisadores e cientistas brasileiros estão desistindo da continuidade da carreira – pelo menos em solo nacional. Consideradas como o salário ou sua única forma de sustento, as bolsas federais, tanto de mestrado quanto de doutorado, estão com os valores estagnados desde 2013. Para que essas pessoas que dedicam suas vidas profissionais nas pesquisas acadêmicas pudessem recompor o poder aquisitivo perdido ao longo de quase uma década, o reajuste teria que ser superior a 65%.

O valor atualmente recebido por mestrandos e doutorandos bolsistas, via Capes ou CNPq, é de R$ 1,5 mil e R$ 2,2 mil, respectivamente, montante que é consumido pela inflação ano após ano e o que torna cada vez mais desafiador atuar e se dedicar plenamente no desenvolvimento da produção científica aqui no país.

É preciso lembrar a cada dia quanto a nossa ciência é importante e ajuda a dar respostas para a sociedade, não só na saúde, como vimos e seguimos vendo mais fortemente durante a pandemia, mas também em tantas outras áreas do conhecimento, como na tecnologia, nas inovações, na educação e no campo social, fomentando debates e estruturas para, inclusive, novas políticas públicas que busquem melhores condições para cada cidadão. Agora, fazer essa ciência exige do pesquisador dedicação, foco e recursos, algo que, justamente, temos observado minguar com a constante política de cortes praticada nos últimos anos no Brasil.

Para se entender o tamanho do abismo que tem sido criado nesse tema, basta observar que uma correção de 30%, ou seja, de menos da metade do reajuste considerado ideal, demandaria um aumento de mais R$ 718 milhões no orçamento anual da Capes e R$ 306 milhões na CNPq. Mas, no caminho oposto, de 2017 a 2021, o que tivemos foi uma redução de quase 40% no orçamento previsto para a Capes. Foram R$ 4,9 bilhões em 2017 frente a cerca de R$ 3 bilhões no ano passado, o que causou a queda de bolsas concedidas. Em 2017, foram distribuídas 101.372, e em 2020, 95.116, de acordo com a reportagem de O Globo.

O tema de fato preocupa e deve ser tratado como uma pauta de interesse nacional. Vivemos um período difícil, com alto risco de evasão de talentos da nossa ciência. Trata-se de uma classe especial, que assim como tantas outras precisa e merece ter garantido um recebimento digno, que os permita progredir a nossa produção acadêmica e científica e, com ela, auxiliar o desenvolvimento e enriquecimento do nosso país.

As entidades nacionais que representam esses pesquisadores estão se articulando para reverberar esse pedido de melhores condições nas bolsas federais. Numa reunião em novembro, o presidente do CNPq, Evaldo Ferreira Vilela, pediu a Odir Dellagostin, diretor-presidente da Confap, estudos para possíveis reajustes.

— Não atraímos mais os melhores cérebros para pós-graduação. E quem recebe bolsa não consegue manter a dedicação exclusiva — explicou Dellagostin à reportagem do jornal O Globo.

Algumas federações estaduais de amparo à pesquisa já ouviram e começaram a reajustar suas bolsas. Em 2021, seis delas concederam 25% de correção. Outras 10 anunciaram que pretendem fazer o mesmo, e algumas planejam um reajuste de 37%. A força é coletiva para que quem tanto se dedica às pesquisas possa receber seu merecido valor.

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