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Decisão do governo de trocar de órgãos a atribuição de gestão e divulgação de informações sobre incêndios e queimadas no país provoca ainda mais fumaça  sobre dados científicos relacioandos ao tema

Decisão recente do governo federal retirou do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicações (MCTIC), a atribuição de divulgar dados sobre incêndios e queimadas no Brasil. A tarefa cabe agora ao INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), subordinado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A missão de ambos os institutos já aponta para a temeridade da decisão. Para a Ciência, há ainda mais em questão.

O INPE acumula experiência de décadas sobre o monitoramento de incêndios e queimadas. Seus técnicos são altamente qualificados no assunto e os dados que produzem tem o reconhecimento internacional. Tais dados são essenciais no avanço da Ciência e na compreensão do funcionamento dos ecossistemas brasileiros e suas interações com a atmosfera, servindo também para a construção de cenários de gestão territorial e impactos climáticos para o Brasil e para o mundo.

Portanto, mudar a instituição que lida com os dados de incêndios e queimadas e sua forma de divulgação, bem como o corpo técnico e o ministério responsável, pode colocar em questão a integridade da informação.

Apesar de o novo diretor do INMET justificar a mudança para criar um painel de monitoramento de risco de incêndio, a integração de dados pretendida não demandaria tal quebra. Aliás, monitorar risco de incêndio é muito diferente de monitorar a sua ocorrência. A decisão é ainda mais estranha ao subordinar tal tarefa ao MAPA, o que pode representar conflito de interesse a até prejudicar o setor no mercado internacional.

Um dos prejuízos científicos é o encerramento da série de dados construída em longo prazo de forma consistente, que sustenta em parte os modelos que simulam cenários climáticos futuros, entre outras aplicações. O MCTIC inova ao permitir lançar fumaça sobre dados científicos valiosos. Para o bem da Ciência e do país, é recomendável a revisão desta decisão.

[Décio Semensatto é professor da Unifesp e pesquisador SOU_CIÊNCIA]