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Ivermectina: eficaz ou não contra a Covid-19? A ciência ainda busca essa resposta com diversos estudos em desenvolvimento

No último dia 6 de julho, um artigo divulgado pelo Open Forum Infectious Diseases trouxe uma meta-análise sobre o uso da ivermectina para tratar a Covid-19, a doença causada pelo Sars-Cov-2 e que pode acometer os indivíduos em suas formas leve, moderada ou grave. O artigo joga ainda mais holofote sobre o tema, uma vez que, aqui no Brasil, a ivermectina. foi incluída no chamado kit Covid-19 que tem sido utilizado para o tratamento precoce, em associação à Cloroquina. O kit Covid-19 tornou-se famoso também por ser defendido por grupos anticiência, inclusive pelo próprio presidente do país, Jair Bolsonaro.

A ivermectina é um conhecido antiparasitário, mas que foi utilizada, de modo compassivo, ou seja, sem evidências concretas, contra a Covid-19 e, por essa razão, há muitos trabalhos publicados sobre o tema. O que esta meta-análise fez foi levantar e compilar todos os dados reportados em diversos estudos incluídos em plataformas de publicação (Pubmed, Embase, MedRxiy) objetivando concluir sobre a eficácia ou não da ivermectina.

Embora a meta-análise seja uma forma de analisar diversos trabalhos publicados em diferentes plataformas e que podem produzir inúmeros dados para análise, ela não produz uma palavra final sobre o tema, mas elementos adicionais para que se evidencie o que ainda é preciso estudar. Saliente-se que os trabalhos são realizados de maneiras diferentes, alguns, inclusive, sem uma metodologia clara.

Um bom trabalho científico deve seguir as premissas, estabelecidas pelo método científico e em pesquisas clínicas de boa qualidade, devendo incluir ensaios que tenham controles experimentais que eliminem qualquer falsa interpretação dos dados. E o que isso significa? Que, ao mesmo tempo em que testamos um medicamento em um grupo de indivíduos, é necessário ter um parâmetro comparativo, ou seja, outro grupo que não recebeu aquela medicação para que a comparação possa ser realizada. Além dos controles, os ensaios devem ser randomizados, ou seja, deve-se fazer uma espécie de sorteio entre os participantes, para que não haja influência ou escolha de quem receberá e de quem não receberá o medicamento a ser estudado.

O estudo publicado pelo grupo de Oxford indicou que a ivermectina pode reduzir em 56% a mortalidade em pacientes com Covid-19 e pode estar associada a uma diminuição dos marcadores inflamatórios que estão presentes durante a doença, principalmente em pacientes com a doença moderada, mas não nos pacientes com quadros graves. No entanto, os próprios autores salientam que muitos dos estudos analisados, não receberam análise dos corpos editoriais das revistas onde foram publicados e que o conjunto dos artigos também utilizou diferentes dosagens e métodos de tratamento, o que dificulta uma decisão conclusiva sobe o uso do medicamento.

Por isso, para sabermos da real capacidade da ivermectina contra Covid-19, é necessário aguardar os resultados dos ensaios clínicos randomizados, que estão em andamento em diversos países e que poderão validar ou não os resultados vistos. Ainda não se pode celebrar o uso da ivermectina, uma vez que o medicamento ainda não recebeu o atestado da ciência como um fármaco eficaz no combate à Covid-19. A ciência ainda não produziu essa resposta, mas está no caminho. Deixemos os cientistas trabalharem.

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[Soraya Smaili é professora da Unifesp e coordenadora do SOU_CIÊNCIA]