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Fuga de cérebros: Brasil perde cada vez mais pesquisadores, que deixam o país para desenvolver seus estudos no exterior

Você já ouviu falar em “fuga de cérebros”? Esse é um termo que caracteriza o êxodo de talentos na área da ciência aqui no Brasil. Sim, infelizmente, tem sido cada vez maior o número de jovens pesquisadores que deixam o país para desenvolver seus estudos e pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento no exterior. Mas, por que será que tem acontecido esse movimento?

Aqui no país, infelizmente, são poucos os pesquisadores que ganham financiamento para suas pesquisas. Aqueles que conseguem, para tê-lo, precisam percorrer um longo caminho, num amplo processo de análise, muito seletivo e demasiadamente competitivo. Sabemos que esse financiamento é fundamental para que uma grande ideia deslanche, aconteça, se transformando em um projeto bem sucedido criativo e inovador. Vale dizer que esse processo é ainda mais árduo e competitivo para jovens cientistas recém-titulados e contratados nas universidades e institutos de pesquisa do país.

É nesse universo que o Instituto Serrapilheira foi criado. Seu foco é incentivar e financiar os jovens cientistas brasileiros, dando-lhes oportunidade de executarem seus projetos inovadores. Contudo, mesmo com esse importante apoio, vários jovens têm deixado nosso país. Qual seria o motivo?

Infelizmente, nem o apoio de instituições como o Serrapilheira garantem a permanência dos jovens e promissores cientistas brasileiros porque, para além dos recursos, o atual cenário por qual passa a ciência e a pesquisa no país desanima. Como disse recentemente o presidente do Instituto Serrapilheira, “o Serrapilheira foi concebido para ser a cereja do bolo, o problema é que acabou o bolo”. Triste, mas trata-se de uma comparação bem realista.

A falta de motivação, a ausência de condições de infraestrutura das instituições de pesquisa, a instabilidade dos recursos e o ambiente de falta de incentivo, para dizer o mínimo, têm feito com que jovens e brilhantes cientistas sintam-se incapazes de continuar.

Estamos falando aqui de pesquisadores que receberiam recursos por terem sido selecionados e financiados pelo Instituto Serrapilheira. Imaginemos os nossos jovens pesquisadores, que nem esse apoio do instituto receberam ou que aguardam uma bolsa, ou mesmo uma colocação após realizarem o doutorado.

O Brasil tem um sofisticado e sólido sistema de pós-graduação e, em que pese os avanços conquistados nos últimos anos, no presente momento encontra-se estagnado ou em retrocesso. A falta de investimento em C&T, nas universidades e nos institutos de pesquisa é dramática. Chegamos a patamares de cerca de dez anos atrás, o que representa um enorme obstáculo para quem gostaria de dedicar ao desenvolvimento de pesquisas por aqui.

É necessária e mais que urgente a reversão dessa situação, sob o risco de termos um ambiente ainda mais propício para a fuga de mentes e gentes, o que certamente levará anos e anos para a formação de doutores de igual qualificação e formação.

O SOU_CIÊNCIA tem, entre seus objetivos, estudar o financiamento e propor soluções e também realizar um levantamento da evasão dos nossos doutores. Serão diagnósticos que poderão auxiliar na formulação de novas políticas para o setor. Estamos à postos!

[Soraya Smaili é professora da Unifesp e coordenadora do SOU_CIÊNCIA]