Em São Paulo, as aulas presenciais foram retomadas a partir de 2 de agosto. Seria a hora certa para o retorno?
No dia 2 de agosto, tivemos o anúncio e muitas informações sobre a volta às aulas presenciais na rede pública estadual de educação de São Paulo. Considerando que a responsabilidade por efetivar os cuidados necessários à prevenção da Covid-19 ficará por conta de cada escola e que existe uma heterogeneidade nas condições sanitárias, de infraestrutura e de pessoal, nas diferentes comunidades escolares e seus territórios, nos perguntamos se são estas a forma e a hora mais adequadas para esta medida. As notícias informam que as escolas poderão traçar os seus planos de volta às aulas, uma autonomia salutar, mas que necessita de muito preparo e suporte técnico e financeiro em cada município e instituição, o que traz também muitas dúvidas sobre a realização eficaz desse retorno.
Em relação à imunização, sabemos que os(as) profissionais da educação foram considerados(as) como grupo prioritário e vacinados(as), mas para as crianças e jovens ainda não há cronograma estabelecido e, no Brasil, apenas a vacina da Pfizer é permitida na faixa etária dos 12 aos 17 anos. O Instituto Butantã solicitou à Anvisa o uso dessa vacina para a faixa entre 3 e 17 anos, apenas no dia 30 de julho, e não obteve resposta até o momento. Essa é uma situação alarmante, visto que a variante delta chegou ao país, é 60% mais contagiosa e deixa a carga viral dos infectados mais de mil vezes maior do que outras cepas. Por conta da delta, inúmeros países recuaram em seus planos de flexibilização das atividades sociais.
No Brasil, seria necessário saber quais são as condições reais de professores(as) e trabalhadores(as) das escolas em termos de acesso a informações, treinamento para a utilização de máscaras, para o contato com estudantes de maneira presencial após meses de distanciamento. É preciso pensar nos(as) estudantes e suas famílias, verificar se todas as escolas terão acesso, em número suficiente, a boas máscaras, itens de higiene, salas ventiladas e bem preparadas para receber as crianças com distanciamento mínimo de 1,5m (recomendação da Organização Mundial de Saúde) e, principalmente, o reconhecimento, testagem rápida e isolamento dos(as) estudantes que apresentarem sintomas.
Em que pese a felicidade de todos(as) com o retorno presencial, há um assunto pouco falado e que precisa de considerações: trata-se do acometimento da Covid-19 nos profissionais da educação. De acordo com os dados do Instituto Polis, neste ano, foram 297 óbitos, o que corresponde a 39% dos óbitos da categoria. Desde o início da pandemia foram 756 mortes de profissionais da área, só na capital paulista, sendo que 57% nos últimos seis meses. Por que ninguém está falando sobre isso? Quais medidas os governos dos Estados e dos municípios, que aceitaram voltar, estão tomando para dar suporte aos professores e trabalhadores da Rede Pública?
Os profissionais da Educação em nosso país, notoriamente mal remunerados, recebem pouco suporte para a atualização e também carecem de uma política efetiva de promoção à saúde da categoria. Porém, diante da pandemia o apoio e o cuidado deveriam ser maiores, não só com a aquisição de EPIs de qualidade, mas também de atualização e suporte técnico para conhecer e enfrentar os casos de Covid-19, bem como prevenir a transmissão, já que boa parte dos infectados são assintomáticos, mas continuam transmitindo.
Mais assustadora, entretanto, foi a informação de que muitas escolas estão voltando com a capacidade de 100%, quando sabemos que nem todos os equipamentos possuem ambientes amplos e ventilados para receber todos os matriculados.
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[Maria Angélica Pedra Minhoto é professora da Unifesp e pesquisadora SOU_CIÊNCIA]
[Soraya Smaili é professora da Unifesp e coordenadora do SOU_CIÊNCIA]