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Disseminação do vírus preocupa; volta à normalidade não deve ser antecipada sem o aval da ciência

No último dia 30 de julho, a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta acerca da situação atual da pandemia no mundo: “O vírus está ficando mais forte e mais rápido”. O comunicado trata da variante Delta do novo coronavírus e precisa ser observado com total atenção. Ele se faz importante e necessário, uma vez que, somente na última semana de julho, foram mais de 4 milhões de casos, com aumento no número de óbitos também.

O número de casos poderá chegar a 200 milhões em apenas duas semanas, já que a variante Delta é altamente transmissível, o que representa um aumento de 80% em relação às duas semanas anteriores. “Este acontecimento resulta do fato de que a maioria dos países não atingiu um número satisfatório de vacinados e o vírus continua a circular e espalhar. Trata-se de uma fotografia também da desigualdade entre os países, mas que em um mundo globalizado não isenta os países ricos. Neles, aliás, já se observa o número de casos aumentando drasticamente, como nos EUA”, destaca a professora Soraya Smaili, farmacologista da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e coordenadora do SOU_CIENCIA.

Os especialistas e cientistas do Brasil e do mundo concordam que a circulação do vírus, de fato, tem contribuído até aqui para torná-lo mais forte e mais rápido, pois a velocidade de disseminação da variante Delta é de 6 a 8 vezes maior. “Por isso, todos os esforços devem ser feitos para diminuir a circulação do vírus, não só com a vacinação completa, com duas doses para as vacinas que requerem este esquema, que pode diminuir muito as hospitalizações e óbitos, como também com a continuidade do uso das máscaras”, diz Soraya.

No Brasil, é necessário mais vacinas e menos pressa para retomada de eventos

No país, enquanto a vacinação ainda não alcança a velocidade que deveria alcançar, algumas prefeituras estão flertando com a retomada de grandes eventos, mesmo diante dos números da pandemia no Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, em anúncio foi feito no dia 29 de julho, o prefeito Eduardo Paes afirmou que a cidade terá “o maior Réveillon da história” e que planeja o fim do uso das máscaras até o dia 15 de novembro. Na capital paulista, o prefeito Ricardo Nunes chegou a indicar a realização do carnaval, embora tenha desistido da ideia, diante da falta de evidências científicas para fazer este planejamento, isso após ouvir o comitê de especialistas criado para o enfrentamento da pandemia em São Paulo.

Para Soraya Smaili, “após mais de um ano de pandemia e uma gestão de muitos desencontros e problemas, sem deixar de falar na descentralização excessiva, esses anúncios apenas reforçam a situação de descoordenação que se encontra o sistema de gestão e combate à pandemia do coronavírus, bem como da ausência de diretrizes claras para o país, de modo homogêneo”.

“Mais além, está claro que ainda não é hora de os governantes tomarem decisões ou fazerem anúncios com base em probabilidades ou expectativas. É preciso ter dados e evidências que fundamentem a tomada de decisão. Ainda não sabemos se controlaremos as variantes, especialmente a Delta. O mais preocupante é criar a esperança de que as máscaras poderão ser abolidas em novembro, pois não há evidências para isso. Tudo indica que continuaremos usando máscaras por um bom tempo, já que as vacinas podem impedir a forma grave da doença, mas não controlam a transmissão”, ressalta Soraya.

Basta ter como exemplo os EUA, onde vários estados estão retomando a utilização de máscaras, já que houve um aumento expressivo no número de casos, bem como elevação dos casos graves e óbitos entre os não vacinados. “Os dados e levantamentos preliminares mostram que os vacinados podem ter uma proteção bastante grande contra a variante Delta. Mas, o CDC, órgão de controle de doenças americano, alerta que é necessário continuar o uso de máscaras, pois a transmissão pode acontecer mesmo entre pessoas vacinadas. Ou seja, a ordem agora é muita cautela e continuidade das medidas de vigilância e proteção. Precisamos ter plena consciência do momento em que vivemos, para celebrar a vida e a saúde e, assim, teremos muito tempo adiante para festejar no futuro” conclui Soraya.

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