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Duas jornalistas científicas do SoU_Ciência fizeram parte da equipe responsável pelo estudo. 

Por Mariana Ceci

Único bioma exclusivamente brasileiro e um dos possíveis trunfos do país no enfrentamento à crise climática, a Caatinga tem visto sua área devastada crescer ao longo dos anos. Em 2023, houve um aumento de 43,4% em sua área desmatada em relação a 2022, colocando-a na segunda posição em número de alertas de desmatamento, atrás apenas da Amazônia. Historicamente associada à seca e à pobreza no imaginário brasileiro, a realidade da Caatinga não poderia ser mais distante desses estereótipos, uma vez que conta com uma rica biodiversidade e atua como sumidouro de gás carbônico. 

Em trabalho apresentado na última edição do Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), as jornalistas Mariana Ceci, Clara Marques e Anna Miranda apresentaram o trabalho “Caatinga em pauta: uma análise da centralidade do discurso científico e presença midiática na imprensa nordestina”. As jornalistas Mariana Ceci e Anna Miranda integram a equipe de jornalismo científico do SoU_Ciência. 

O estudo, em fase preliminar, analisou como a ciência se faz presente na mídia tradicional e independente de três estados nordestinos, cujos territórios correspondem a mais de 80% do bioma da Caatinga: Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. 

“A ciência apresenta um contraponto fundamental aos estereótipos que são amplamente difundidos sobre a Caatinga, o Semiárido e a região Nordeste como um todo. Muitas vezes, essas regiões e suas paisagens são associadas à seca, à pobreza e ao combate a essa mesma seca, quando estudos já apontam que, além de não corresponder à realidade, isso não representa a melhor estratégia para a região”, afirma Mariana Ceci, mestranda em Divulgação Científica e Cultural no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp). 

Para esse trabalho, foram analisadas reportagens publicadas de janeiro a junho de 2024 nos veículos tradicionais O Povo (CE), Diário de Pernambuco (PE) e Tribuna do Norte (RN). Dentre os independentes, foram selecionados a Agência Eco Nordeste (CE), o Marco Zero Conteúdo (PE) e a Agência Saiba Mais (RN).

Os resultados iniciais apontam que, apesar das redações menores identificadas em veículos independentes, as matérias produzidas por esses veículos contêm maior quantidade de menções a cientistas, instituições de ciência e dados de pesquisas. Nos veículos independentes, a menor proporção registrada de matérias de ciência foi de 75%, ao passo que, nos veículos tradicionais, a maior proporção registrada de matérias de ciência que atendem aos critérios estabelecidos no estudo foi de 47%. 

“Os achados preliminares foram interessantes para observar a larga presença da ciência na mídia independente desses estados. Saber como a ciência se apresenta no jornalismo é fundamental, pois o jornalismo contribui na construção de imaginários, e, ao analisá-lo, somos capazes de pensar, também como pesquisadores e instituições, em estratégias que se relacionam a esse diálogo com a imprensa e à divulgação científica”, destaca Anna Miranda, mestre em Comunicação e Sociedade (UFT) e jornalista no SoU_Ciência. 

Nas próximas fases do estudo, as pesquisadoras pretendem fazer uma análise aprofundada de como o conteúdo coletado representa a Caatinga, incluindo as fontes utilizadas para a construção da imagem do bioma na imprensa. “Tratar da emergência climática e, ainda, de forma mais particular, de como a Caatinga é representada na imprensa é fundamental para a pesquisa em comunicação. Precisamos expandir nossos conhecimentos para além do aparente imediatismo da notícia. Devemos voltar o olhar para os simbolismos e as representações contextuais do sertão nordestino em nosso país”, afirma Clara Marques, também mestranda em Divulgação Científica e Cultural no Labjor/Unicamp e jornalista no INCT NanoAgro, Fellow 2024 no Climate Tracker e Diretora de Comunicação da RedeComCiência. 

O trabalho apresentado pelas pesquisadoras ficará disponível nos anais do evento, que serão divulgados ainda em 2024.