Com participação do SoU_Ciência, o evento discutiu o impacto da saída de cientistas do país e soluções para revitalizar a pesquisa nacional
Tamires Tavares
No dia 28 de agosto, as coordenadoras do Centro SoU_Ciência, Prof.ª Soraya Smaili e Prof.ª Maria Angélica Minhoto, participaram de sessão dedicada ao tema “Diáspora Científica: Caminhos para a Repatriação e Retenção de Cérebros”, realizada pelo Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O evento, transmitido ao vivo pelo canal do IOC/Fiocruz no YouTube, discutiu o “Programa de Repatriação de Talentos - Conhecimento Brasil”, uma iniciativa desenvolvida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Financiadora de Estudos e Projetos do Governo Federal (FINEP).
A sessão foi coordenada pelo pesquisador emérito da Fiocruz, Prof. Renato Cordeiro, e contou com a participação de palestrantes de destaque no cenário científico nacional, como o Prof. Luiz Davidovich, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Prof.ª Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Prof.ª Soraya Smaili, coordenadora do Centro SoU_Ciência e ex-reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A Prof.ª Soraya Smaili ofereceu uma perspectiva preocupante sobre a situação das universidades públicas no Brasil, apresentando dados do Painel Expansão do Ensino Superior Privado no Brasil e do Painel Financiamento da C&T e das Universidades Federais. Segundo ela, a chamada "perda de cérebros" começa ainda na graduação, com uma queda significativa nas matrículas das universidades públicas e a ampliação das instituições privadas controladas por grandes grupos internacionais. “Precisamos abordar não apenas a repatriação, mas também a retenção dos talentos que ainda estão aqui. Sem condições de trabalho dignas e uma política eficaz de valorização, corremos o risco de continuar perdendo nossos melhores pesquisadores”, afirmou.
O debate foi conduzido por especialistas no tema, de diversas instituições, como a Prof.ª Maria Angélica Minhoto, da Unifesp e também coordenadora do Centro SoU_Ciência, o Prof. Aldo Zarbin, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Prof.ª Ana Gazzola, professora emérita e ex-reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Prof. Luiz Carlos Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Prof. Marcus Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Prof. Samuel Goldenberg, pesquisador emérito da Fiocruz, e Herton Escobar, jornalista científico e repórter do Jornal da USP.
Os participantes destacaram a necessidade de fortalecer o sistema de ensino e pesquisa no país para evitar novas ondas de êxodo científico e trouxeram à discussão a importância da comunicação científica e do financiamento adequado como pilares para o desenvolvimento da ciência no Brasil. Foi ressaltada, ainda, a urgência de políticas públicas integradas que assegurem a valorização dos pesquisadores e a ampliação dos perfis destes.
A atenção à educação básica no atual cenário brasileiro também foi um ponto levantado pela Prof.ª Maria Angélica Minhoto. “Na comunidade científica, deveríamos ser capazes de realizar parte do que as universidades públicas já estão fazendo, que é ampliar a atração de jovens que possuem um novo perfil de estudante e pesquisador. Ou seja, não apenas novos cientistas provenientes das classes médias e altas, o que também contribui para diversificar e fortalecer a ciência. No entanto, para isso, é evidente que há uma grande necessidade de uma boa formação básica, um ponto que não devemos deixar de debater”, declarou.