A obra apresenta textos com reflexões sobre os impactos da tecnologia na educação no contexto atual
Tamires Tavares
Foi lançado, na última quarta-feira, 4 de dezembro, o livro Educação e Tecnologia na Sociedade Administrada: Estudos Críticos, publicado pela Editora Appris. O evento realizado na Vila Madalena, São Paulo, reuniu pesquisadores, estudantes, educadores e interessados no tema. A coletânea, organizada por Maria Angélica Minhoto (coordenadora do SoU_Ciência), Carlos Antônio Giovinazzo Jr. e Odair Sass, propõe uma análise aprofundada das relações entre educação, técnica e tecnologia no contexto do capitalismo tardio, com base nos fundamentos da Escola de Frankfurt.
Os organizadores da obra, renomados em suas áreas, trazem perspectivas complementares ao tema. Maria Angélica Minhoto, docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi Pró-Reitora de Graduação da mesma universidade, entre 2013 e 2017, e atualmente coordena o Centro SoU_Ciência. Ela é reconhecida por sua atuação em políticas educacionais. Carlos Antônio Giovinazzo Jr. é professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e pesquisa temas como juventude e escola. Odair Sass, psicólogo e doutor em Psicologia Social, também leciona na PUC/SP, com foco em educação e psicologia.
A coletânea resulta de um projeto temático iniciado em 2019, envolvendo dois grupos de pesquisa: Teoria Crítica, Formação e Cultura da PUC/SP, criado por Odair Sass, e Avaliação de Políticas Educacionais, da Unifesp, liderado por Maria Angélica Minhoto.
O grupo Teoria Crítica, Formação e Cultura trabalha desde 2008 com temas como formação, educação e psicologia, baseando-se na Teoria Crítica de autores como Adorno, Horkheimer e Marcuse. Além disso, explora a relação entre psicologia, estatística e educação, com foco na análise de preconceitos na inclusão escolar. Já o grupo Avaliação de Políticas Educacionais concentra-se no impacto de indicadores como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Fundeb) sobre as políticas educacionais e os sistemas de ensino, dividindo suas pesquisas em duas linhas principais: "Avaliação e Indicadores de Qualidade" e "Observatório da Educação", que investigam temas como financiamento público, condições de trabalho e valorização docente.
Em entrevista, Maria Angélica comenta como a tecnologia tem sido empregada na educação contemporânea, a partir da análise dos textos reunidos: “Nosso livro se propõe a entender como a tecnologia impacta a educação hoje, e não tem sido no sentido de produzir facilidade ou qualidade nas práticas pedagógicas. Muito pelo contrário, o que a gente tem visto é que a tecnologia tem entrado no âmbito da educação — seja na educação superior, seja na educação básica — muito mais como forma de controle da formação e para a adaptação dos sujeitos a esse mundo que chamamos de mundo administrado".
Evento de lançamento, na Vila Madalena, em São Paulo, contou com a presença de pesquisadores do tema, estudantes e amigos dos organizadores. / Divulgação SoU_Ciência
A obra, com introdução de Pedro Fernando da Silva, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), reúne textos que analisam como a racionalidade das sociedades industriais influencia a formação contemporânea, moldando subjetividades e perpetuando as dinâmicas de reprodução do capital. Entre os destaques estão duas traduções inéditas de Theodor W. Adorno para o português: “Teoria da Pseudocultura” (1959) e “Especificação da Teoria Crítica” (2004), a partir de anotações encontradas nos arquivos de Max Horkheimer.
“O livro surge como resultado de trabalhos e esforços de mais de uma década dos grupos de pesquisa, em um momento essencial para a reflexão sobre a educação no país e, mais do que isso, sobre a necessidade de uma educação crítica no lugar da educação bancária que tem se proliferado”, comenta Cristiane Fairbanks, pesquisadora do SoU_Ciência e coautora de um dos capítulos.
Os oito capítulos discutem a intersecção entre formação, técnica e tecnologia no contexto educacional contemporâneo. O primeiro, "Formação técnica e tecnologia na educação contemporânea", de Odair Sass, estabelece as bases teóricas da obra, explorando esses conceitos no cenário atual. Na sequência, o texto "Técnica, tecnologia e profissionalização: a produção científica sobre os fins da universidade e formação", de Minhoto e Giovinazzo, analisa como as universidades têm ajustado suas práticas formativas às demandas econômicas, frequentemente em prejuízo da autonomia individual.
A discussão se aprofunda com "Da formação do indivíduo autônomo e a produção de capital humano: a universidade em questão", de Minhoto e Cristiane Fairbanks, pesquisadora do SoU_Ciência, que examina modelos históricos de universidades (francês, alemão, inglês, norte-americano) e a evolução da universidade brasileira, destacando sua subordinação às exigências econômicas. Em "A competência como ferramenta de pseudoformação na sociedade do capitalismo tardio", Luiz Alberto Neves Filho e Elisangela Lizardo investigam o conceito de competência, revelando como ele restringe a autonomia do indivíduo ao favorecer uma formação superficial.
Juarez Bernardino de Oliveira, em "A formação continuada de professores da educação básica e as políticas para a melhoria da qualidade da Educação Pública em São Paulo", critica a formação continuada da rede pública paulista, que muitas vezes "deforma" em vez de qualificar os professores. No capítulo "Juventude, democracia e fascismo: a formação do jovem e o ensino médio no Brasil contemporâneo", Giovinazzo reflete sobre a reforma do ensino médio, destacando suas falhas em promover uma formação integral e cidadã.
A obra também inclui "Política educacional contemporânea: a análise da atividade do fundo nacional de desenvolvimento da educação de 2000 a 2019", de Deise Lopes de Souza, que, com base em sua tese de doutorado, examina como as políticas de financiamento priorizam interesses econômicos em detrimento da formação integral. Por fim, Maria Angélica Minhoto assina o capítulo "Expansão e mercantilização da educação superior: uma análise preliminar do processo de deformação em larga escala" no qual analisa os impactos da mercantilização das universidades, evidenciados pela expansão de instituições privadas e pela oferta de cursos de baixa qualidade.
O livro Educação e Tecnologia na Sociedade Administrada: Estudos Críticos já está disponível no site da Editora Appris e nas principais livrarias virtuais.