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Protagonismo feminino na ciência e necessidade de igualdade de gêneros foram destaque em evento virtual

Nesta quinta, 10, o Centro SoU_Ciência realizou a Live “Mulheres e Meninas da Ciência: Para o que e para quem?” em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado hoje, 11 de fevereiro. A Live aconteceu pelo canal do centro no Youtube e foi acompanhada, ao vivo, por quase uma centena de mulheres e homens, pesquisadores e representantes de universidades de todo o país.

Mediada por Soraya Smaili, coordenadora do SoU_Ciência, a  Live reuniu Esther Solano, doutora em Ciências Sociais, professora adjunta da Unifesp, e que se destaca em suas pesquisas na área de humanidades; Gulnar Azevedo, pesquisadora e professora do Instituto de Medicina Social da UERJ; Nilma Gomes, ex-reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab); Ester Sabino, imunologista, pesquisadora, professora da USP, com longa experiência com estudos de DNA dos vírus da dengue, zika e Chikungunya, cuja equipe ajudou no sequenciamento do novo coronavírus;  Fernanda Quaglio, professora adjunta do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Unifesp e integrante do grupo MaternaCiência;  e a empresária Luiza Helena Trajano, presidente do Grupo Mulheres do Brasil, conhecida por sua liderança da sociedade civil e apoiadora da ciência e das mulheres. A importância e o protagonismo das mulheres na ciência foram destacadas por cada uma das convidadas.

A empresária Luiza Helena Trajano foi a primeira a ressaltar a importância da ciência. “Sempre fui uma apaixonada pela ciência, mas a pandemia me fez ver o quanto é necessário que as pessoas entendam a importância de incentivar e cobrar planejamento de nossos governantes, para os próximos 10, 20 anos, de modo a não faltar recursos para pesquisas em nosso país. O que seríamos de nós se não fosse o trabalho de nossos cientistas e o grande projeto de nossa saúde que é o SUS?”, destacou Luiza Helena, que seguiu:  “Precisamos incentivar nossas meninas a conhecerem mais de perto a ciência, as universidades, e trabalhar juntos para que todos tenham acesso à educação”.

Ao também destacar a importância do incentivo e financiamento de pesquisas no país, Ester Sabino contou um pouco sobre sua trajetória científica e aproveitou para ressaltar a importância de mostrar para a sociedade a relevância da prática e produção da ciência.

“Em 2019, enfrentamos um ano muito difícil e o sequenciamento do genoma do coronavírus, feito em menos de 48 horas, foi amplamente destacado, o que aproximou a população da ciência. Todos queriam saber mais sobre pesquisas feitas no Brasil. Precisamos trabalhar melhor essa aproximação com a população, aprender a mostrar o que fazemos. Além disso, precisamos estar também mais próximas das alunas, de redes de mulheres que precisam de apoio, para que possamos seguir em frente fazendo ciência”.

A aproximação foi palavra usada também por Esther Solano durante sua fala. “Ao fazer pesquisas sobre opinião pública por todo o país, entrevisto muitas mulheres, de diversas faixas de renda, formações e é impressionante como elas se sentem invisíveis, abandonadas e fora do foco da esfera pública. E nesta pandemia, elas se declararam duplamente invisíveis, principalmente as mães. Isso mostra não só quanto nós mulheres estamos na sombra, como também necessitamos buscar e ocupar os nossos espaços”.

Ainda no âmbito da aproximação, Esther Solano fez questão de ressaltar a necessidade de abraçar a política, “principalmente neste momento do país, em que a ciência e as universidades recebem tantos ataques negacionistas, fazendo da ciência e das universidades lugares políticos, entendendo que essa política é a máxima expressão do convívio e da construção do presente e do futuro coletivo. A ciência tem que sair dos muros da academia e estar junto da sociedade”.

Igualdade entre gêneros

Fernanda Quaglio, docente da Unifesp e integrante do MaternaCiência aproveitou sua participação para falar sobre os desafios das mulheres cientistas, pesquisadoras e alunas que são mães.  “Várias mulheres cientistas falam sobre as questões da maternidade em seu dia a dia. E isso é muito presente na vida das mulheres, não apenas das cientistas, mas de todas que participam das atividades acadêmicas. Trata-se de um desafio que não pode ser encarado como um problema, mas que precisa ser superado”. Nesse contexto, Fernanda também destacou que a pandemia evidenciou ainda mais esse desafio, “revelando uma sobrecarga ainda maior por conta da falta da rede de apoio, em razão do isolamento, que todas as pesquisadoras sempre precisam contar para poder trabalhar.

Ao final de sua fala, Fernanda destacou a necessidade de se lutar por medidas de valorização das carreiras das mães cientistas. “Hoje, 50% das cientistas mães cuidam sozinhas de seus filhos e quase 50% não consegue levar trabalho para casa e isso faz com que as mulheres ocupem posição secundária nas carreiras de ciência. É preciso tratar a maternidade como algo normalizado e que ela não seja usada para explicar a desigualdade entre gêneros. Essa é a nossa luta e esperamos que essa nossa luta tenha uma contribuição substancial na carreira das mulheres cientistas de forma geral”.

Já próximo do final da Live, Gulnar Azevedo registrou a relevância do evento e da participação feminina na ciência. “É a ciência que vem permitindo que o mundo avance, para que possamos enfrentar as pandemias. O que estamos fazendo aqui hoje é falar desse papel importante de nossas cientistas, pesquisadoras, e de todas as mulheres que trabalham embasadas por esta ciência para nossa sociedade. Precisamos acreditar em nosso trabalho, porque o fazemos com dedicação e conseguimos passar para os outros e, assim, valorizamos a ciência. Nós fizemos e estamos fazendo muito e é importante que tenhamos formas de nos comunicar e de mostrar toda essa produção para a população. Precisamos ser uma ciência cidadã e este é um grande desafio. Sair de nossas bolhas, de nossas salas, universidades e nos comunicar com a sociedade”.

Nilma Lino foi a responsável por encerrar a Live e, ao responder o questionamento sobre o que fazer para ampliar os espaços das mulheres na ciência, com todas as possibilidades, estimulando as meninas, além de criar redes de apoio, destacou algumas ações: “Temos que realizar diálogos com movimentos sociais, ouvir estas mulheres e pensar como nossas competências podem contribuir para emancipar também suas vidas e emancipar nossas próprias vidas. Outro caminho interessante seria pensar projetos para a educação básica, não apenas indo às escolas, mas trazendo essas meninas até as universidades para conhecerem nosso trabalho, nossas experiências. As pessoas precisam visualizar o que é o espaço da universidade, que ainda é bem distante de grande parte de nossa sociedade”, concluiu.

Para quem não acompanhou a Live, é possível vê-la na íntegra no canal do SoU_Ciência no Youtube.