A ciência em luto e em luta diante de tantos mortos
Em março de 2020, quando a pandemia fazia as primeiras vítimas aqui no Brasil e a ciência já buscava respostas acerca do entendimento, formas de prevenção, de tratamento e de combate à crise sanitária global, por meio do desenvolvimento de vacinas em tempo recorde, seria inimaginável a ideia de que poderíamos alcançar meio milhão de vidas ceifadas por essa doença em nosso país. Pois, o que era inimaginável tornou-se inaceitável no último dia 19 de junho, quando a triste marca de 500 mil mortes de brasileiros por Covid-19 foi atingida. Trata-se de um índice trágico, que reforça quanto a falta de ação, de diplomacia da saúde e do negacionismo são tão ou mais avassaladoras que a transmissão desse terrível vírus.
Além da batalha contra o vírus, o país trava essa insana e dura batalha contra a passividade, ou pior, contra o negacionismo à ciência disseminado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que contribuiu de modo determinante para esse triste cenário que enfrentamos hoje. Embora já seja de conhecimento de toda a população o imenso potencial de produção científica nacional e que, inclusive, atuou com protagonismo no desenvolvimento de algumas das vacinas que hoje são aplicadas em todo o mundo, salvando milhões de vida, o governo brasileiro segue na contramão das principais potências mundiais, reduzindo e contingenciando recursos essenciais para que nossos cientistas prossigam integralmente dedicados nos estudos fundamentais para buscar a contenção, um freio para o estrago diariamente causado pela Covid-19.
Viveríamos uma situação menos catastrófica caso nosso governo cuidasse mais da Diplomacia da Saúde, atuando de maneira célere para a aquisição de vacinas em um primeiro momento, depois no incentivo à produção local e, em médio prazo, com investimentos maciços em pesquisa para as vacinas brasileiras. É preciso que os cientistas sejam valorizados, que deixem os cientistas fazerem o seu trabalho aumentando a produção científica com a pujança de recursos, no caminho oposto ao que foi escolhido. O descaso cobra seu preço, e o luto é de todos neste país.
Nós, cientistas, nos solidarizamos a cada brasileiro que perdeu um ente querido nessa pandemia e, ainda que nosso governo crie barreiras, enfrentaremos e seguiremos adiante, com todas as nossas forças, produzindo conhecimento e buscando respostas para a sociedade. Jamais desistiremos.
SOU_CIÊNCIA, Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência