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Pesquisa revela o que mais preocupa os jovens de 18 a 27 anos. Entre as aspirações, vontade de empreender supera o interesse em emprego com carteira assinada

Uma pesquisa ampla realizada pelo Centro de Estudos SoU_Ciência em parceria com o Instituto IDEIA trouxe à tona os desafios e as aspirações dos jovens brasileiros entre 18 e 27 anos. Em setembro foram ouvidos 1.034 jovens, revelando um panorama que contempla temas relacionados a aspectos da vida pessoal, estudantil e profissional dos jovens, suas perspectivas de futuro, posições ideológicas e percepções sobre o país. 

Jovens Brasil

O levantamento explorou tópicos ligados à vida pessoal, acadêmica e profissional da juventude brasileira, suas expectativas para o futuro, visões ideológicas e opiniões sobre a situação do país. |                                             Ilustração: Meyrelle Nascimento

 Na avaliação de Pedro Arantes, professor da Unifesp e pesquisador do SoU_Ciência, a pesquisa mostra “que os jovens estão pedindo ajuda, estão apontando que sofrem com diversos problemas que não se resolvem facilmente: ansiedade e depressão, violência, drogadição, vícios em celulares e em jogos. O que nós, como sociedade, faremos?”. Além disso, comenta Arantes, “eles nutrem expectativas de não serem trabalhadores assalariados, querem ser empresários, ter o próprio negócio e viver de renda e dividendos. Essa é uma expectativa que vai ser frustrada, não existe sociedade só de empresários, a imensa maioria será e continuará sendo trabalhadora, formalizada ou precarizada – ou seja, este desejo de ser patrão será outro motivo de ansiedade e desilusão”. 

Saúde mental no topo das preocupações – Ansiedade e depressão foram apontadas como os maiores desafios pessoais por 38% dos entrevistados. O dado representa um aumento em relação a 2021, quando o tema ocupava o terceiro lugar com 32%. Mulheres mencionaram essas questões com maior frequência do que homens (43% contra 32%). Entre os universitários, 51% indicaram ansiedade e depressão como principais problemas, em comparação a 32% entre aqueles que não frequentam o ensino superior.

 

Principais problemas dos jovens segundo eles mesmos, em setembro 2024.

Pergunta permite até três respostas. Fonte: SoU_Ciência/ Instituto IDEIA, set 24.

Outros problemas relacionados à saúde mental também foram destacados. O vício em celular e redes sociais teve um aumento de 41% entre 2021 e 2024, sendo mais citado por mulheres (27%) e jovens de classe AB (27%). O consumo de drogas foi mencionado por 22%, com destaque entre jovens de classe C (30%) e aqueles com ensino superior completo (34%).

Corrupção: o maior problema do país – A corrupção foi mencionada por 34% dos jovens como o principal problema do Brasil. Esse percentual representa um aumento em relação aos 26% registrados em 2021. A preocupação com o tema foi mais comum entre homens (40%) e jovens da classe AB (37%). Entre os jovens de direita ou centro-direita, 52% consideraram a corrupção como o maior desafio nacional. Já entre aqueles que se identificam como de centro, o índice foi de 21%.

 

Principais problemas do Brasil segundo jovens de 18 a 27 anos, em setembro 2024.

Pergunta permite até três respostas. Fonte: SoU_Ciência/ Instituto IDEIA, set 24.

A violência e a falta de segurança foram o segundo maior problema apontado, com 30% das respostas, uma queda em relação aos 35% registrados em 2021. Mulheres (33%) e jovens da classe DE (30%) destacaram essa questão com maior frequência. O Nordeste foi a região onde o tema apresentou maior relevância, sendo citado por 33% dos jovens.

Por outro lado, fome e pobreza, que eram a principal preocupação em 2021 com 66%, caíram para 18%, ocupando a oitava posição no levantamento atual.

Empreendedorismo versus carteira assinada – Ter o próprio negócio é a maior aspiração profissional de 30% dos jovens entrevistados. O interesse é mais comum entre mulheres (34%) e jovens pretos (31%) e pardos (32%), superando brancos (27%). Regionalmente, o Centro-Oeste registrou o maior percentual (37%), enquanto o Nordeste apresentou o menor índice (27%).

Quanto ao emprego com carteira assinada, apenas 11% dos jovens manifestaram interesse, embora este modelo seja a fonte de renda atual para 41% deles. Entre aqueles com ensino superior completo, o interesse no empreendedorismo atinge 31%, enquanto o desejo por um trabalho com registro em carteira é de apenas 8%.

 

Tipos de trabalho desejados pelos jovens brasileiros

Fonte: SoU_Ciência/ Instituto IDEIA, set 24.

A carreira no funcionalismo público foi mencionada por 18% dos jovens, com destaque entre os que se identificam como de esquerda (28%). A possibilidade de viver de investimentos também aparece como aspiração para 18% dos entrevistados, apesar de atualmente representar fonte de renda para apenas 1%.

Aborto e maconha – 41% apoiam a legalização do aborto, enquanto apenas 33% concordam com a legalização da maconha para uso recreativo. O apoio ao aborto é maior nas classes A e B (46,3%) e no Sul (51,7%), sendo menor nas classes D e E (33%) e no Sudeste (35%). Jovens ateus (58%) e de esquerda (69%) lideram o apoio, enquanto evangélicos (27%) e jovens de direita (25%) registram os menores índices.

 

Opinião dos jovens sobre a legalização da interrupção voluntária da gravidez.

Fonte: SoU_Ciência/ Instituto IDEIA, set 24.

Quanto à maconha, o apoio é maior no Sul (41%) e entre jovens ateus (50%), mas cai para 30% nas classes D e E e 22% entre evangélicos. Políticos de esquerda (54%) mostram maior adesão, contra 20% da direita. A pesquisa destaca que menos da metade dos jovens brasileiros é favorável a pautas progressistas, com influências significativas de religião, classe social e política.

 

Jovens se posicionam sobre a legalização da maconha para uso recreativo

Fonte: SoU_Ciência/ Instituto IDEIA, set 24.

Meio ambiente: a nova fronteira de preocupação – A crise ambiental foi citada como um dos principais problemas do país por 24% dos jovens, representando um aumento de 243% em relação a 2021, quando o índice era de apenas 7%. A preocupação é mais comum entre mulheres (27%) e jovens de esquerda (32%).

 

Principais problemas do Brasil, segundo jovens, em 2021 e 2024.

(A pergunta permite até três respostas. Em 2021, respostas de jovens de 16 a 29 anos. Em 2024, de 18 a 27 anos). Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, out/21 e set/24.

Regionalmente, a pauta ambiental aparece com maior força no Centro-Oeste, onde 29% dos jovens consideram o tema uma prioridade, à frente da violência e segurança. No Sul, 27% também destacaram a questão, enquanto no Sudeste o índice é de 21%.

Polarização ideológica e distanciamento político – A maioria dos jovens (67%) afirmou não se identificar nem com a esquerda nem com a direita. Eles se dividem entre os que afirmaram nunca ter tido posição política (31%), os que “não sabem ou preferem não responder” (20%) e os que já tiveram posição política, mas não a têm mais (7%) e os de centro (9%). Entre os 33% que possuem um posicionamento ideológico, 16% se declaram de esquerda ou centro-esquerda, e 17% de direita ou centro-direita. 

A polarização esquerda-direita é mais evidente em temas de costumes, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apoiado por 79% dos jovens de esquerda e apenas 27% dos de direita. Da mesma forma, as escolas cívico-militares são apoiadas por 69% dos jovens de direita, mas apenas 26% dos de esquerda. As opiniões também divergem sobre cotas universitárias, apoiadas por 66% dos jovens de esquerda e 33% dos de direita.

Sobre o levantamento – A pesquisa “O que pensam os jovens brasileiros” foi realizada pelo Centro Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (Sou_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA. 

Entre 16 e 23 de setembro de 2024 foram entrevistados 1.034 jovens de 18 a 27 anos, de todas as regiões do país, via telefone celular. Os dados foram ajustados com base no censo mais recente do IBGE para refletir o perfil real da juventude brasileira. 

A margem de erro é de 3 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. Para garantir resultados precisos, os questionários passaram por uma rigorosa checagem de qualidade. 

As 55 perguntas do questionário abordaram temas relacionados a aspectos da vida pessoal, estudantil e profissional dos jovens, suas perspectivas de futuro, posições ideológicas e percepções sobre o país.

Acompanhe a divulgação dos resultados da pesquisa diretamente no site do SoU_Ciência.