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Desejo por empreendedorismo cresce conforme o nível educacional aumenta. Mulheres manifestam maior interesse em empreender do que os homens.

O desejo de empreender se mostra como a principal aspiração profissional dos jovens brasileiros, enquanto trabalhar sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) aparece com um índice significativamente menor. De acordo com pesquisa realizada pelo Centro de Estudos SoU_Ciência em parceria com o Instituto IDEIA, 30% dos jovens entre 18 e 27 anos almejam ter seu próprio negócio, ao passo que apenas 11% têm o registro em carteira como objetivo profissional.

“Esses dados indicam que grande parte dos jovens não quer ser classe trabalhadora em sentido estrito, ou seja, com as conquistas da CLT, com regulamentações, com registro em carteira e outros benefícios que foram conquistados ao longo de décadas”, analisa Pedro Arantes, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da pesquisa. “Há um desejo de condução dos próprios rumos profissionais, mesmo com os riscos que isso implica”.

Imagem: Agência Brasil

Variações – A pesquisa mostra que as aspirações variam conforme gênero, escolaridade, cor, localização geográfica e posicionamento político. Mulheres (34%) manifestaram maior interesse em empreender do que os homens (25%). Jovens pretos (31%) e pardos (32%) também destacaram-se nessa preferência, superando os brancos (27%). Regionalmente, o Centro-Oeste registrou o maior percentual de interesse no empreendedorismo (37%), enquanto o Nordeste teve o menor índice, com 27%.

Quanto à escolaridade, o desejo por empreendedorismo cresce conforme o nível educacional aumenta: 16% entre os jovens que cursaram até a terceira série do ensino fundamental; 31% entre os jovens formados no ensino superior. Em relação ao interesse em emprego com registro em carteira, a ordem se inverte: 16% (fundamental incompleto) e 8% (superior completo).

No espectro político, jovens que se identificam como de esquerda destacaram-se pelo interesse no funcionalismo público, com 28% indicando essa carreira como o maior objetivo profissional. Em contraste, os jovens que se posicionam na direita preferem abrir seus próprios negócios, com 38% mencionando o empreendedorismo como meta prioritária.

Contrastes presente e futuro – A pesquisa também revelou um contraste marcante entre as fontes de renda atuais dos jovens e suas aspirações futuras. Atualmente, 41% dos jovens trabalham sob o regime CLT, mas apenas 11% almejam permanecer nesse modelo no futuro. Por outro lado, carreiras no funcionalismo público, que hoje representam a fonte de renda para apenas 3% dos entrevistados, foram apontadas como objetivo por 18%. A possibilidade de viver de renda ou investimentos, mencionada por 18%, reflete um desejo por independência financeira, apesar de atualmente ser realidade para apenas 1%.

Outro dado relevante é o interesse em atuar como autônomo, mencionado por 12% dos jovens, e a preferência por não trabalhar, indicada por 8%. A menor adesão foi registrada entre os que desejam atuar em empreendimentos solidários, como cooperativas, com 5% das respostas.

Mais revelações – A pesquisa do SoU_Ciência traz outras revelações importantes:

  • Os jovens são mais favoráveis à legalização do aborto do que à legalização da maconha: 41% e 33%, respectivamente.
  • Ansiedade e depressão são os principais problemas que preocupam os jovens. Esses transtornos foram citados por 38% dos jovens, liderando o ranking de preocupações, um aumento em relação a 2021, quando estavam em terceiro lugar, com 32%.
  • O maior problema do Brasil é a corrupção (34%), seguido pela violência e falta de segurança (30%).
  • A crise ambiental e hídrica é apontada por 24% dos jovens como um dos principais problemas do país, número que representa um crescimento de 243% em relação ao levantamento realizado em 2021, quando apenas 7% mencionavam o tema.
  • No campo político-ideológico 58% declaram não fazer parte nem da direita nem da esquerda, segmentos que são representados por 17% e 16%, respectivamente, dos jovens. 9% se definem como de centro. 

A pesquisa “O que pensam os jovens brasileiros” foi realizada pelo Centro Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (Sou_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto de Pesquisa IDEIA. 

Entre 16 e 23 de setembro de 2024 foram entrevistados 1.034 jovens de 18 a 27 anos, de todas as regiões do país, via telefone celular. Os dados foram ajustados com base no censo mais recente do IBGE para refletir o perfil real da juventude brasileira. 

A margem de erro é de 3 pontos percentuais; intervalo de confiança de 95%. Para garantir resultados precisos, os questionários passaram por uma rigorosa checagem de qualidade. As 55 perguntas abordaram temas relacionados a aspectos da vida pessoal, estudantil e profissional dos jovens, suas perspectivas de futuro, posições ideológicas e percepções sobre o país.

GRÁFICO 1 – Tipos de trabalho desejados pelos jovens brasileiros

Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, set/24.

 

GRÁFICO 2 – Relação entre escolaridade e desejo profissional/trabalho

Fonte: SoU_Ciência/Instituto IDEIA, set/24.