Universidade é a primeira do Brasil e pode não ter verba para pagamentos de despesas, como água e coleta de lixo
Denise Pires de Carvalho é a primeira reitora mulher da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Imagem: Artur Moes/Divulgação
Reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a médica e professora Denise Pires de Carvalho, tem revisto contratos e dados para minimizar os efeitos negativos do bloqueio de verba anunciado pelo governo federal.
De acordo com a reitora, a universidade não voltará ao ensino remoto para fazer economia. “Este tipo de economia agora vai custar muito caro para o país. Só vamos parar quando não tivermos mais serviço de limpeza e eu espero que isso não aconteça", disse, em entrevista ao Portal UOL.
O bloqueio no orçamento foi de 14,5%, mas no dia 3 de junho o MEC (Ministério da Educação) anunciou o desbloqueio de metade da verba —R$ 1,6 bilhão.
Na entrevista, Denise Pires de Carvalho ressaltou que o orçamento discricionário, aquele não envolve salário, é um orçamento para pagamento de contas de água, da empresa de limpeza e coleta do lixo, ou seja, de funcionamento da universidade, e que estes cortes têm sido sucessivos desde 2015.
Também de acordo com ela, a UFRJ tinha orçamento para funcionar até metade de outubro e iria ficar descoberta por dois meses. Contratos de limpeza, segurança, fundamentais para o funcionamento, não seriam pagos nestes dois últimos meses do ano. Com os cortes, a situação é ainda mais crítica.
"É um equívoco retirar dinheiro do sistema de educação, ciência, tecnologia e inovação, porque é um sistema que gera emprego e renda. É o tipo de economia mal feita, porque o governo dá num bolso e tira do outro. Não adianta uma pessoa receber Auxilio Brasil, se o seu filho vai ficar sem bolsa, sem escola”, ressaltou.
A reitora da UFRJ também criticou a falta de planejamento no setor de Educação e o não cumprimento do Plano Nacional de Educação por parte do atual governo. “Não há uma meta nesse plano que eu tenha visto ser seguida. Isso é muito grave e demonstra que esse é um governo que não pretende dar continuidade a projetos de Estado. Nenhum ministro escolhido foi capaz de colocar o plano nacional em discussão, o governo poderia decidir que a meta A, B ou C seriam privilegiadas, porque não há recursos para todas, mas nem isso foi feito. Continuamos com níveis altos de analfabetismo, cursos que precisam se profissionalizar, um ensino superior que precisa se modernizar”.
Denise lembrou que, em 2016, o setor atingiu a meta de 60 mil mestres por ano. “Essa foi a única meta atingida e já perdemos. Cortaram bolsas, não reajustaram o valor e temos uma evasão de cérebros do Brasil. Alunos que conseguem terminar graduação aqui não querem fazer mestrado, porque a bolsa é de um salário mínimo. Vamos analisar isso no futuro e será um reflexo do atual governo, não tem como descolar”.
A reitora da UFRJ falou também sobre o maior acesso de estudantes negros, pobres e da periferia nas universidades públicas e sobre o fato de as mulheres ainda serem minorias nas reitorias das universidades federais.
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Crédito da foto: Divulgação/Universidade Federal do Rio de Janeiro