UFRJ e agora Unicamp cancelam título Honoris Causa dado a ministro da ditadura
No último dia 28 de setembro, o Conselho Universitário da Unicamp, por decisão unânime, decidiu revogar o título de Doutor Honoris Causa dado em 1973, no período mais violento da ditadura militar, ao então ministro da Educação, o coronel Jarbas Passarinho. A UFRJ já tinha realizado o mesmo, em abril deste ano.
Essa iniciativa se soma a outras que pretendem revisar a legitimidade da homenagem a personagens que atuaram em favor de regimes ditatoriais, da escravidão, da colonização, do extermínio de povos indígenas e que foram agraciados com títulos, monumentos e nomes em praças e avenidas. Personagens que devem ser progressivamente banidos do espaço público numa democracia, como tem ocorrido em vários países, com estátuas, nomes de ruas e prédios públicos sendo rebatizados, ressignificados ou retirados. Em São Paulo, este foi o caso do “Minhocão”, que em 2016 passou de Elevado Costa e Silva para Presidente João Goulart e de ações diretas contra monumentos como o Monumento às Bandeiras e o Borba Gato.
Essa revisão de monumentos e homenagens, de quem merece ocupar o espaço público e simbólico na democracia, é urgente e necessária, mesmo numa redemocratização lenta e emperrada como a brasileira. E ainda mais nesse momento em que ataques à democracia e aos direitos humanos, à comissão da verdade e à justiça da transição, à educação e à ciência têm sido desferidos pelo atual governo e apoiadores.
Hoje, mais do que nunca, é preciso rememorar o passado, contra o silêncio do esquecimento, que nos cala e nos faz recuar, porque os espetáculos golpistas estão de volta nas ruas. É hora de falar da ditadura e da resistência, o que nos pede reações corajosas e sem meias palavras, de reparar as vítimas e responsabilizar criminosos, preservar a memória e construir mecanismos para que isso não mais aconteça.
Cabe, além de demonumentalizar opressores, homenagear os que lutaram por igualdade, democracia, justiça, liberdade e cidadania plena. A legitimidade de quem ocupa o espaço público está em disputa. A construção de marcos de memória e de referência acadêmica são questões simbólicas centrais numa democracia em construção e em universidades que lutaram e lutam pela liberdade de pensamento e espírito crítico.
E vale lembrar que o tão atacado pela extrema-direita, o educador Paulo Freire, foi homenageado com o título Honoris Causa em 35 universidades em todo o mundo.
(Pedro Arantes é professor da Unifesp e pesquisador do SOU_Ciência)
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