Demissão em massa de servidores permite prova com “a cara do governo”, segundo Bolsonaro. O que isso quer dizer?
Com Ministros da Educação de Bolsonaro engajados na guerra cultural, no revisionismo histórico, no negacionismo e no ataque às universidades públicas, o que antes era retórica ideológica de governo passa agora a assombrar o próximo ENEM, que ocorrerá neste fim de semana sob suspeita. O INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que é o órgão técnico de Estado na preparação e aplicação do exame, está sofrendo aparelhamento e patrulhamento ideológico.
Ao longo da última semana, 37 funcionários em cargos comissionados (de direção) no INEP pediram exoneração alegando incompetência administrativa do governo, assédio moral e, sobretudo, ingerência na formulação da prova de ingresso nas universidades públicas brasileiras. Mais de 20 questões foram censuradas e alteradas por ação da presidência do INEP (ocupada por gestor de fundos da Universidade Mackenzie, a mesma do ministro) e um policial federal, sem autorização prévia, foi vistoriar inesperadamente a preparação da prova, segundo depoimento de funcionário à TV Globo, reproduzido na Folha de S.Paulo. Além do policial, outras 22 pessoas foram incluídas na lista para ter acesso às provas. O sigilo da prova, com isso, pode estar comprometido.
Os funcionários informaram a mídia que não há razão para a censura, pois as perguntas são formuladas por professores capacitados e habilitados em edital, mantidas em sigilo e em banco de dados de acordo com as áreas de avaliações previstas. De acordo com depoimento de um dos funcionários, a principal censura se deu em relação a questões de história do Brasil nos últimos 50 anos.
(Pedro Arantes é professor da Unifesp e pesquisador do SoU_Ciência)
Matérias de referência:
Após demissões Bolsonaro diz que Enem começa a ter a cara do governo
Servidores do Inep detalham censura em questões da história recente no Enem