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Os desafios da educação num mundo globalizado e pós-pandemia geraram vários debates durante o evento

Entre 18 a 20 de maio, Barcelona, na Espanha, foi palco da III Conferência Mundial de Educação Superior (CMES) da UNESCO, que teve como foco central a sustentabilidade ambiental e o futuro do planeta, bem como o papel das universidades neste contexto.

Um ponto de concordância do evento foi o papel dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) como uma referência para a atuação das Universidades, seja na primeira missão (ensino), segunda (pesquisa) ou terceira (extensão e inovação).

As delegações da América Latina e Caribe atuaram de forma alinhada no sentido de garantir a ratificação da visão da Educação como um bem público e social, um direito fundamental das pessoas e um dever do Estado.

Do Brasil foi apresentada a proposta das Instituições Públicas e Comunitárias nacionais para a promoção de políticas públicas - elaborada em conjunto pela  Associação Brasileira das Instituições Comunitárias de Educação Superior (ABRUC); a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (ABRUEM) e o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) – que visam garantir uma Educação pública de qualidade, inclusiva e que respeite a diversidade que caracteriza o Brasil. O documento apresentou também uma visão sobre o papel do Estado nas questões da Educação e da CT&I (Ciência, Tecnologia e Inovação) e no apoio às artes e à cultura.

Os temas que pautaram a conferência passam agora a ser referências para o próximo decênio em todo o mundo, principalmente neste período pós-crise sanitária global, e envolvem a questão da educação híbrida em um mundo “figital” (físico e digital); o impacto das novas tecnologias de ensino e aprendizagem; a colaboração entre as Instituições; a perigosa mercantilização da educação (em especial em países da América Latina, Caribe e África); os desafios que se tornam cada vez mais complexos (e que requerem soluções cada vez mais transdisciplinares); a internacionalização e mobilidade acadêmica; a educação ao longo da vida e as questões relacionadas com a diversidade, a equidade e a inclusão.

Ao contrário das duas conferências anteriores, nesta III CMES não foi gerado um documento final. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) encaminhou nesta edição um formato diferente, no qual será gerado um Plano de Ação (Road Map) que apresente os caminhos a seguir após reuniões e discussões no âmbito das regionais da própria UNESCO, que ocorrerão ao longo de 2023.

O Plano de Ação gerado pela UNESCO contempla dois frameworks: a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável e a iniciativa do Novo Contrato Social proposto para o Futuro da Educação para 2050. Identificando como tendências da Educação Superior a expansão com forte assimetria, a internacionalização, o papel central das novas tecnologias, as mudanças nas fontes de financiamento e os frameworks crescentemente complexos de prestação de contas à sociedade. Identifica como novas ameaças globais interconectadas as mudanças climáticas, as ameaças à biodiversidade, a persistências de conflitos armados, as desigualdades sociais, o declínio dos valores democráticos e o impacto da Covid19.

Princípios e missões

A UNESCO também apresentou os seguintes princípios que moldarão o futuro da Educação Superior no mundo no decênio:

  • Integridade e ética;
  • Inclusão, equidade e diversidade;
  • Sustentabilidade e responsabilidade social.
  • Liberdade acadêmica;
  • Cooperação para a excelência;
  • Investigação, pensamento crítico, inovação e criatividade.

A UNESCO também apresentou o que chamou de três missões revisitadas da Educação Superior:

  • A formação de cidadãos globais preparados para atuar na complexidade;
  • A geração e compartilhamento de conhecimento, ciência aberta e abordagens transdisciplinares,
  • O engajamento social, o desenvolvimento e a responsabilidade ética.

As Conferências Mundiais de Educação Superior ocorrem a cada 10 anos com o objetivo de definir os rumos da Educação Superior dos países membros da Unesco para o decênio seguinte. A primeira CMES ocorreu em 1998 e, a segunda em 2009, ambas na sede da UNESCO em Paris, França. 

*Com informações do Artigo de Rui Oppermann, professor da UFRGS e membro ENLACES e KAIRÓS, e Jorge Audy, professor da PUCRS e também membro KAIRÓS, para o Jornal da Ciência