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Está em curso na Hungria uma reforma universitária promovida pelo governo do premiê Viktor Orbán com todos os sinais de ter um claro objetivo final: calar a universidade como polo de livre-pensamento e crítica ao avanço do projeto obscurantista da extrema direita local. As muitas semelhanças da política húngara da última década com o que ocorre hoje no Brasil recomendam vigilância e ação por aqui.

Com a justificativa de modernizar o ensino superior, 11 universidade públicas foram transferidas para fundações controladas por aliados do premiê. Outras cinco instituições já estão selecionadas para a “reforma”. Em rodada anterior, 12 universidades foram transferidas para o novo modelo, informou reportagem de Thaís Ferraz, do jornal O Estado de S. Paulo [Link]. As mudanças já atingem 70% dos estudantes de ensino superior da Hungria.

A reforma foi feita para parecer modernização. Fundações recebem ativos, como ações de empresas ligadas ao governo ou imóveis, e ganham a incumbência de gerir as universidades, com metas supostamente de interesse público. No comando dos novos órgãos, no entanto, estão sendo colocadas pessoas próximas de Obán e do Fidesz, partido que lhe dá sustentação. Tudo indica que a motivação da chamada reforma é inibir o debate, calar setores acadêmicos críticos e avançar com a guerra cultural.

Todas as semelhanças com a atualidade brasileira não são mera coincidência. Aqui, como lá, a Ciência e a universidade têm sido alvo preferencial da extrema direita no poder. Aqui, como lá, estudos de gênero são motivo de perseguição e há priorização de áreas de conhecimento exclusivamente voltadas ao mercado nas iniciativas governamentais.

Que a trajetória húngara ajude a abrir os olhos de brasileiras e brasileiros antes que o projeto autoritário esteja definitivamente instalado por aqui.

 

[Rogerio Schlegel é professor da Unifesp e pesquisador SOU_CIÊNCIA]