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As recentes falas do ministro da Educação e a clareza sobre o projeto do governo

Infelizmente, apesar de não estarmos mais surpresos, é de se espantar a quantidade de informações equivocadas que o Ministro da Educação anunciou em uma única entrevista concedida a um canal público, no último dia 9 de agosto. A comunidade acadêmica não está chocada, apenas constatou que a falta de projeto para a Educação no país é, de fato, o próprio projeto.

Após mais de dois anos deste governo, verificamos que continua o ataque às universidades federais, mesmo diante de uma pandemia, em que essas mesmas instituições demonstraram o quanto estão voltadas para o interesse público do nosso País. Antes, tínhamos ofensas, agressões e difamações explícitas. Agora, temos a total falta de conhecimento e muito preconceito, além da falta de reconhecimento do que é feito em termos de ensino, pesquisa, extensão e assistência em saúde.

As universidades federais continuam com o corte brutal de recursos de custeio, bem como o corte de recursos na CAPES, com consequente diminuição de programas e de bolsas. Isso, sem deixar de citar a falta de condições de segurança sanitária para o retorno ao trabalho presencial nas instituições de ensino, inclusive com a falta de vacinação, que ainda não chegou a todos(as), para além das tentativas constantes de ferir a autonomia na escolha de reitores e agora até de procuradores nas universidades.

A tentativa de diminuir o esforço brasileiro de ter os seus jovens na universidade também ganhou considerações equivocadas e preconceituosas. Como mencionado nos links abaixo, é errado afirmar que o país não precisa de mais universitários, quer sejam engenheiros ou advogados. Com base no relatório da OCDE, o Brasil possui apenas 21% de seus jovens com Educação Superior completa. Ao contrário de países desenvolvidos, que têm em média 45%. O mesmo relatório apontou que a universidade é um importante passo para a o aumento de renda da população. Também é um erro indicar que os cotistas não estão preparados e que somente os pais dos não cotistas pagam impostos. Dados sobre o desempenho dos cotistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, mostraram que há pouca diferença no rendimento entre cotistas e não cotistas, semelhante ao observado em diversas outras instituições.

Há muito o Brasil deixou de lado a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE), de dobrar o número de matrículas para o Ensino Superior ou Tecnológico até 2023. Sabemos que neste ritmo podemos levar mais de 30 anos para alcançar o patamar. Estamos muito longe de termos os níveis de educação que nos permita uma comparação com a Alemanha, quer no que diz respeito à universidade ou mesmo ao ensino tecnológico.

O projeto do atual governo está bem claro: sem recursos e sem apoio, ficaremos sem advogados e engenheiros, sem pós-graduandos, sem pesquisadores, sem cotas e muito menos técnicos em informática. Um País a caminho da ignorância.

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[Soraya Smaili é professora da Unifesp e coordenadora do SOU_CIÊNCIA]