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Muitos começaram a agir como se a pandemia tivesse acabado. Não só não acabou, como teremos que lidar com a Covid longa

 Um artigo divulgado recentemente na MIT Technology Review (veja aqui) trata dos danos que a pandemia também provoca em nossos cérebros e em nossos comportamentos. No texto, comenta-se que um tipo de comportamento pode estar sendo induzido por publicitários, cujo objetivo seja, na verdade, a retomada da economia. Mas, esta é uma visão equivocada da volta ao processo econômico de consumo, ao invés de estimularmos um comportamento racional e equilibrado. Representa, assim, uma pressão contrária ao movimento que nossos próprios cérebros devem estar fazendo.

Além disso, ainda temos muitos traumas e medos a superar, juntamente com a pandemia. A volta aos comportamentos do pré-pandemia deveria ser lenta e gradual, com segurança e também com apoio. De repente, já se fala em abertura geral, vida normal, festas e aglomerações, como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos mais de 560 mil mortos no Brasil e como se ainda não estivéssemos com alto número de casos ainda ocorrendo. Isso, sem falar nas sequelas que certamente teremos que lidar. São vários os trabalhos científicos que revelam haver mais de 200 alterações que podem estar presentes na “Síndrome Pós-Covid” ou como tem sido chamada a partir do inglês, a “Covid longa”.

A preocupação com a Covid longa é grande. Dados levantados nos EUA, reportam que há o dobro de casos de ansiedade e depressão na comparação com os números antes da pandemia. Por essa razão, uma das perguntas que temos que fazer é: como estará a nossa saúde de fato, no momento em que realmente pudermos tirar as máscaras? Por enquanto, não existe uma resposta clara, mas temos que refletir e nos conscientizarmos de que a pandemia não acabou e que ainda não sabemos quais consequências vamos viver.

As variáveis seguem se espalhando

A expansão das variáveis pode e deve ser um fator de conscientização por parte da população de que a pandemia está longe de terminar. No Rio de Janeiro, o secretário de Saúde do município informou, nesta semana, um aumento de 10% no número de casos de internação, e mais de 50% no numero de casos de Covid, em grande parte devido a variante delta. Na semana passada, o SOU_CIÊNCIA já havia comentado que os anúncios de festas eram prematuros, anúncios que logo foram suspensos, inclusive com um pedido de desculpas por parte do Prefeito do RJ. Em São Paulo, ainda não está claro o que acontecerá e apesar das incertezas, o governador anunciou o fim da quarentena.

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Mais transmissível, variante Delta tem na grande movimentação de pessoas seu território para expansão

No Brasil a detecção de variáveis é lenta, pois depende de sequenciamentos genéticos que, apesar de serem sistemas muito desenvolvidos em nossas universidades com intuito da pesquisa, ainda não estão incorporados pelas redes pública e privada para fins de diagnóstico de maneira corrente. Contudo, e felizmente, agora temos uma importante rede de análise genômica, formada pela Fiocruz e outras instituições atuantes nesta atividade. É necessário dar apoio para expandir estas iniciativas.

Mais além, outras alternativas estão sendo criadas, como a da Unicamp, que busca mapear novas variantes e suas potencialidades por meio de métodos e modelos matemáticos. Há muito, as modelagens puderam auxiliar em diferentes áreas, e agora vemos mais um exemplo da ciência brasileira e com suas possíveis soluções.

O futuro dos tratamentos contra a Covid-19

Para terminar, vale destacar outra recente notícia sobre o futuro dos tratamentos contra a Covid-19, que poderá estar nos inibidores de proteases, área em que os pesquisadores brasileiros se superam. Uma publicação em uma prestigiosa revista chamada Journal of Molecular Biology descreveu uma enzima, a 3CL, capaz de enganar o novo coronavírus.

A notícia é animadora, uma vez que avançamos rapidamente nas vacinas, mas nem tanto nos medicamentos. Não sabemos ainda se seremos capazes de criar um antiviral eficiente. Mas, essas enzimas que estão sendo estudadas talvez tenham a capacidade de impedir a multiplicação do vírus dentro da célula do hospedeiro. Não sabemos se conseguiremos impedir que o vírus infecte a célula, mas se conseguirem impedir a sua replicação, já será uma grande conquista. Daí, inclusive, fica evidenciada a importância da ciência básica, pois, não existem novas tecnologias sem o conhecimento fundamental. Ou seja, conhecer como o vírus age e se multiplica é fundamental para encontrar a fórmula de combatê-lo. Outros estudos com a utilização dos inibidores de proteases já estão sendo desenvolvidos também por laboratórios farmacêuticos e alguns resultados de estudos clínicos começam a sair e parecem muito promissores. É a ciência avançando e dando respostas!

Veja aqui o artigo A Crystallographic Snapshot of SARS-CoV-2 Main Protease Maturation Process

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