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Anúncio do MEC sobre a criação de mais cinco universidades federais: expansão ou manobra do governo?

Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) anunciou que deverá criar mais 5 universidades federais. Para a surpresa de toda a comunidade acadêmica a notícia foi sentida como um sabor amargo. Não porque somos contrários à expansão do sistema de universidades, haja visto o importante processo de transformação que as nossas universidades federais produziram no país, mas porque as novas universidades anunciadas não criarão uma única vaga nova e não trarão recursos novos, já muito escassos para as nossas atividades.

Faz-se necessário salientar que falta hoje no sistema de 69 universidades federais, o montante de 1,8 bilhão de reais para manutenção das instituições existentes. As universidades atuaram muito durante a pandemia e não pararam suas atividades, mas em virtude da brutal falta de recursos e da necessidade de continuidade das atividades, as instituições ficaram à mercê de doações da sociedade civil ou suportaram os cortes, que ainda estão sendo sentidos, além da perda de pessoas e de vidas.

Por outro lado, recebemos a notícia com cautela, já que este governo não possui uma política para a Educação e, desde 2019, as universidades federais têm sofrido fortes ataques, com seus professores chamados de “zebras gordas”, estudantes de “maconheiros” e as instituições de lugar de “balbúrdia”. Se as universidades são estes lugares, por que então criar novas unidades?

A resposta não se vincula a uma política pública, mas sim aos interesses eleitorais e de controle do sistema universitário, pois criando mais 5 universidades, haverá lugar para mais 5 reitores biônicos. Apesar de todos os esforços para controlar as universidades por meio da não escolha dos primeiros reitores elencados nas listas tríplices, essa estratégia não foi muito bem sucedida neste sentido.

Só nos resta lamentar a atitude de criar universidades sem fazer expansão de vagas e por continuar o enorme arrocho ao qual estão submetidas as instituições existentes. É necessário reafirmar que um país que quer o desenvolvimento autônomo, precisa de suas universidades. Porém, que estas tenham orçamento e que possam criar mais vagas para os jovens já carentes de universidades e de empregos. Vamos retornar ao ciclo de efetivo crescimento, o que não guarda qualquer relação com esta proposta que circula por aí.

(Maria Angélica Minhoto é Professora da Unifesp e coordenadora do SOU_Ciência)

(Pedro Arantes é professor da Unifesp e coordenador do SOU_Ciência)

(Soraya Smaili é ProfessoraTitular da Escola Paulista de Medicina-Unifesp, Reitora (2013-2021) e coordenadora do SOU_Ciência)

Matérias de referência:

Universidades federais pedem mais R$ 18 bi para bancar despesas de 2022

MEC prepara projeto para criar cinco universidades em redutos do centrão