images/imagens/1200x700.png

Um olhar sobre a representatividade feminina na ciência e nos espaços políticos de poder

Por Roberta Kelly França e Thaís Cavalcante Martins

Em 2016, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou o “Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência", celebrado em 11 de fevereiro. Apesar de serem necessárias mais ações de popularização do dia, a criação da data representa um importante passo em direção à promoção da participação igualitária das mulheres na ciência, colocando luz às barreiras que ainda impedem o acesso das mulheres no campo das ciências, especialmente nas áreas de tecnologia, engenharias e matemática, conforme apontam os dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Em todo o mundo, as mulheres representam 33,3% de todos os pesquisadores, porém, apenas 12% dos membros das academias de ciências nacionais são mulheres, e entre os graduados em Engenharia elas representam 28%.

A área da saúde segue em outra direção, especialmente entre profissionais dos cuidados básicos.  Nesta área, as mulheres representam 70% do total e, apesar das dificuldades de se dedicarem à pesquisa, elas lideraram o ranking dos cientistas que buscaram resposta à pandemia (ONU, 2021), sendo este o diferencial que queremos valorar e publicizar, inclusive buscando compreender quais são essas dificuldades.

Em âmbito nacional, um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  apresenta estas dificuldades imputadas às mulheres e evidencia que elas perpassam todas as esferas da vida. O indicador “nível de ocupação” apontou que, em 2019, entre as entrevistadas mulheres com 15 anos de idade ou mais, 54,5% ocupavam postos de trabalho no país; já entre o grupo de homens com a mesma faixa etária, 73,7% tinham ocupação. Quando associamos este indicador ao da maternidade, o Relatório (IBGE, 2021) mostra que entre as pessoas de 25 a 49 anos com filhos de até 3 anos de idade, o nível de ocupação dos homens é superior aos das mulheres em 34,6 pontos percentuais. Quando os dados são observados considerando gênero e etnia, “as mulheres pretas ou pardas com crianças de até 3 anos de idade no domicílio apresentaram os menores níveis de ocupação – menos de 50% em 2019 –, ao passo que, entre as mulheres brancas, a proporção foi de 62,6%.” (IBGE, 2021, p.3). Destacar os dados de ocupação é compreender que na nossa sociedade ter autonomia financeira representa para as mulheres maiores condições de acesso aos serviços e apoio com a criação dos filhos, por exemplo, além de maior liberdade sobre sua sexualidade, comportamento e relacionamentos livres de violência.

Outro indicador relevante que se coloca como um desafio para que mais mulheres se projetem na ciência é a representação na política. O Relatório (IBGE, 2021) evidenciou o que vemos ao observar nosso parlamento:  em 2019, o Brasil era o país da América do Sul com a menor proporção de mulheres em mandato parlamentar na Câmara dos Deputados, ocupando a 142ª posição de um ranking com dados para 190 países. Considerando que as mulheres são a maioria da população no país, 51,8% do total,  a pouca representação na política, sem dúvida, leva à negligência no encaminhamento das pautas femininas.

Adicionalmente, se considerarmos que a maternidade se coloca como um desafio para as mulheres, como sugerido pelo indicador “nível de ocupação”, a ausência de políticas mais expressivas para a primeira infância e para o apoio ao ingresso e permanência de mulheres mães no ensino superior e pós-graduação, ou, ainda, o desmonte das políticas de bolsas de pesquisa e das agências de fomento, é válido  afirmar a urgência em se promover a inserção das mulheres na política e em posições de liderança no setor público e no privado, sobretudo se o país quiser aumentar a presença das mulheres na ciência.

No indicador “Educação”, as mulheres apresentaram índices superiores aos dos homens no acesso à graduação, mas com diferença de representatividade a depender da área do conhecimento, sendo que na pós-graduação o cenário se mostra ainda mais limítrofe.

A partir da explanação desse cenário temos duas direções a seguir. Primeiramente, é preciso desmistificar a ciência. Nós mulheres temos capacidade para estar em todas as áreas e ocupar todos os espaços, como as cientistas da área da saúde evidenciaram durante a pandemia. Depois, é urgente ampliar a representação nos espaços políticos de poder.

Roberta Kelly França, é mestre em Educação, Bibliotecária na UFABC e bolsista técnica no SoU_Ciência.

Thaís Cavalcante Martins, cientista política, pós-doutoranda no SoU_Ciência.

Veja aqui a segunda parte do artigo.