Publicações sobre Covid — Nota metodológica dos estudos bibliométricos:

A ciência brasileira, produzida nas Universidades e Institutos de Pesquisa, especialmente nas instituições públicas do país, teve atuação fundamental no enfrentamento à pandemia da Covid-19. Este painel do Centro de Estudos SoU_Ciência, dedicado a registrar e divulgar para a sociedade as ações das universidades em defesa da vida durante esse período trágico da nossa história, também inclui a apresentação de dados sobre as publicações científicas sobre o tema, em diversas áreas de conhecimento, realizadas pelo Brasil.

Essa “arvorezinha” traz, ao lado das diversas ações das Universidade Federais em Defesa da Vida (e também como um desdobramento delas), dados e análises gráficas sobre a publicação científica brasileira no tema da Covid-19 durante a pandemia. O universo pesquisado refere-se ao período de 2019 a 2022 (considerando que os dados foram coletados até outubro/novembro deste último ano), e trata-se de dados extraídos da Base Scopus, que estão agora disponíveis para a consulta pública. É importante esclarecer que o universo da pesquisa das publicações inclui artigos científicos, cartas (letters), resenhas (reviews) e notas (notes), e que foi considerado para o recorte da produção brasileira, no conjunto das publicações mundiais totais sobre Covid-19, aquelas publicações com ao menos um autor(a) vinculado(a) a uma instituição brasileira. Além disso, nos gráficos que tratam das colaborações internacionais, o universo considerado refere-se às publicações em que há ao menos um autor de instituição de outro país.

A Web of Science e a Scopus são as duas bases de dados mais utilizadas para análises bibliométricas. Para este estudo, foi selecionada a Scopus por sua maior cobertura de revistas de países da América Latina e Caribe, e de revistas em outros idiomas, que não apenas o inglês. Além disso, a Scopus contém 99% das revistas indexadas na Web of Science. Outras bases de dados poderão ser usadas em estudos futuros, incluindo Google Acadêmico, Dimensions, Semantic Scholar e OpenAlex. Comparando as bases, vale considerar que há variações, além da quantidade de publicações, também do mix de revistas, o que influencia os resultados das pesquisas e exige cuidado na interpretação dos dados. Há muitas críticas sobre os vieses existentes nas bases de dados em geral e na Scopus, em particular, sejam de idioma (em favor do inglês), país de origem (em favor dos Estados Unidos e/ou Europa) ou área de conhecimento (em desfavor das Artes, Humanidades e Ciências Sociais). Uma estratégia adotada neste estudo para minimizar a influência do viés da Scopus para as áreas de conhecimento foi não comparar números absolutos de publicações sobre Covid-19 entre as áreas, e sim as porcentagens de publicações sobre o tema de cada área, em relação ao total do Brasil ou do Mundo para a área.

O trabalho, realizado pelo nosso Centro, contou com a colaboração e parceria de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, do Núcleo de Informação Tecnológica em Materiais, e da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, em sua fase inicial.

Sobre o material analisado, há 4 conjuntos de dados usados no estudo, todos da base de dados Scopus e coletados a partir das interfaces Scopus ou Scival, com as seguintes características:

Conjunto 1: coletado em 04/10/2022, utilizando a interface Scopus. Importante: não houve download desses dados, apenas execução de buscas e registro dos números de publicações encontradas. Esses dados estão relacionados às publicações do Mundo e do Brasil, no geral ou sobre COVID, por ano no período de 2019 a 2022 e por áreas do conhecimento e assuntos, conforme classificação All Science Journal Classification (ASJC) da própria Scopus, considerando apenas os seguintes tipos de publicações: article, review, letter e note. Neste conjunto de dados há 11.219 publicações do Brasil sobre COVID para o período 2019-2022.

Conjunto 2: coletado em 04/10/2022, utilizando a interface Scopus para busca, a interface SciVal para download e o software VantagePoint para análise bibliométrica. Esses dados deram origem a todas as planilhas do estudo, exceto aquelas mencionadas nos Conjuntos 1 e 3 de dados. São as publicações do Brasil sobre COVID, no período de 2019 a 2022, considerando os seguintes tipos de publicações: article, review, letter e note. A princípio, eram as mesmas 11.219 publicações do Conjunto 1. No entanto, durante o tratamento em software bibliométrico, foram eliminadas as publicações em duplicata ou com lacunas de informação no campo País. Neste conjunto de dados há 10.946 publicações do Brasil sobre COVID para o período 2019-2022.

Conjunto 3: coletado em 20/10/2022 (dados mundiais) e 09/11/2022 (dados do Brasil), utilizando a interface Scopus. Importante: não houve download desses dados, apenas execução de buscas e registro dos números de publicações encontradas. Esses dados estão relacionados às publicações do Mundo e do Brasil, para os assuntos “Cancer”, “Artificial Intelligence”, “Climate Change” e “COVID”, por ano no período de 2019 a 2022, considerando apenas os seguintes tipos de publicações: article, review, letter e note. Neste conjunto de dados há 12.056 publicações do Brasil sobre COVID para o período 2019-2022.

Conjunto 4: coletado 08/05/2023, utilizando a interface Scopus. Importante: não houve download desses dados, apenas a execução de buscas e registro dos números de publicações encontradas. Esses dados são referentes à colaboração internacional da produção geral de autores de instituições brasileiras, para o período de 2019 a 2022.

Por serem coletados em datas diferentes dos Conjuntos 1, 2, 3 e 4, só podem ser utilizados para comparações internas.

Sobre a regionalização: Para o agrupamento de países em regiões e continentes,foi adotada a Standard country or area codes for statistical use (M49), da ONU e adotada pelo IBGE. Também foram adotados os nomes comuns dos países em inglês (p.e. Brazil) conforme disponível na base de dados Scopus, no lugar dos nomes oficiais.

Sobre o impacto das publicações: O impacto das publicações brasileiras sobre Covid-19 foi avaliado a partir do indicador Field-Weighted Citation Impact (FWCI). Para qualquer conjunto de publicações resultantes de uma busca na base Scopus, é possível transferir os dados para a Plataforma Scival e identificar seu FWCI. Isso foi feito para os 27 conjuntos de publicações brasileiras das áreas de conhecimento. A princípio, o impacto de um conjunto de publicações - as publicações de um país, por exemplo - é avaliado pelo número de citações recebidas pelo conjunto. Para comparar dois conjuntos com números diferentes de publicações é preciso dividir as citações recebidas pelo número de publicações. Áreas de conhecimento diferentes, como Física, Ciências Sociais e Medicina, têm culturas e procedimentos distintos de publicação e citação que afetam o número de citações recebidas. Para cancelar o efeito das áreas, foi desenvolvido o FWCI, que compara as citações recebidas por cada publicação com todas as publicações do mundo semelhantes a ela: do mesmo tipo (artigo), área e ano de publicação. O FWCI é um número que, sendo maior que 1, indica que a publicação tem impacto acima da média das publicações semelhantes. Caso seja 2, o impacto é o dobro da média das publicações semelhantes. E quando menor que 1, indica que a publicação tem impacto abaixo da média das publicações semelhantes. O FWCI de um conjunto de publicações é a média do FWCI de cada publicação do conjunto.



REFERÊNCIAS:

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