images/imagens/1200x700.png

O atual cenário do CNPq, que em 2021 completa 70 anos de produção científica

Por Soraya Smaili

Há poucos dias, a comunidade científica nacional verificou que o portal do CNPq estava fora do ar. Inicialmente, todos pensaram se tratar de manutenção. Mas, nessa semana, fomos surpreendidos com a notícia de que o site estaria fora do ar em razão de um problema de grandes proporções nos sistemas de TI. Fomos informados de que os dados estariam preservados, mas, a comunidade científica continua sem saber exatamente o que aconteceu e qual será a extensão do problema. Os prejuízos não resumem apenas aos CVs Lattes dos pesquisadores, são dados e mais dados da ciência nacional, resultados e relatórios de pesquisas, prestações de contas de auxílios concedidos, anos ou talvez décadas de registros de dados. Não se trata apenas da plataforma Lattes, mas de todas as plataformas do CNPq.

Símbolo e orgulho nacional, o CNPq completou 70 anos este ano e a cerimônia de celebração havia ocorrido apenas alguns dias antes desse acontecimento. Recentemente, em artigo que celebrou o dia Nacional da Ciência, perguntamos: o que temos a comemorar? A pergunta retórica nos leva a uma reflexão sobre os cortes orçamentários que se aprofundaram enormemente neste último ano e estão asfixiando nossa ciência. As ocorrências com os sistemas de TI do CNPq estão relacionadas com a falta de manutenção dos sistemas, que por sua vez está relacionada com a falta de recursos e os profundos cortes sofridos na área.

O CNPq, principal conselho e agência de pesquisa do nosso país, que atende a todo território nacional, foi o órgão do MCTI mais afetado pelos cortes de 2021. Como publicamos recentemente no site do SOU_CIENCIA, a agência teve que reduzir muito o número de bolsas e contratou apenas 13% (396) das bolsas aprovadas (3.041). A situação é tão dramática que as entidades da comunidade científica agora solicitam que 500 milhões dos 700 milhões que serão liberados do FNDCT sejam transferidos para o CNPq. É realmente uma situação drástica. Porém, o Ministério da Economia e setores do MCTI continuam a atuar de forma a não liberarem o FNDCT, a retardarem ao máximo a liberação e/ou de o fazerem só para as ações que consideram prioritárias. Os representantes da SBPC e ABC no Conselho Deliberativo do FNDCT estão atuantes, mas as duas entidades precisam da força de todas as outras, bem como da sociedade.

Se quisermos ter o edital Universal do CNPq, por exemplo, que é fundamental para irrigar pesquisadores de diferentes instituições e dar um pouco de oxigênio às pesquisas, esperamos que o CNPq receba estas verbas provenientes do FNDCT, bem como que tenha mais apoio dos governantes. O ocorrido com o CNPq esta semana traz um importante alerta para todos nós e a necessidade de acordarmos para uma situação que se agrava. O Conselho Nacional de Pesquisas de um país precisa ser mais bem cuidado, sob o risco de perdermos o que ainda nos resta.

Soraya Smaili é professora da Escola Paulista de Medicina-Unifesp, ex-Reitora (2013-2021) e coordenadora do SOU_CIÊNCIA.